Editora: Companhia das Letras
ISBN: 978-85-359-2192-2
Ano: 2012
Páginas: 245
R$ 36,00
R$ 36,00
Uma enorme máquina taquigráfica chega ao Rio, vinda numa embarcação do Recife. Quem acompanha o desembarque é seu criador, o padre Francisco João de Azevedo. A máquina é uma das revoluções do século XIX. Com ela, sermões e discursos poderão ser transcritos com agilidade até então desconhecida, como que num registro do próprio progresso brasileiro. É um momento de ebulição nas ciências nacionais. Dezenas de inventores se agrupam no prédio da Exposição Universal, que receberá a visita do Imperador D. Pedro II e de investidores do mundo todo. Nas ruas, a expectativa de um salto industrial e econômico para o Brasil. Neste romance histórico, o escritor Miguel Sanches Neto usa a trajetória do padre Azevedo, precursor da máquina de escrever, para narrar a formação da identidade de um país.
Existem romances que visam o exterior,
uma jornada, um cenário. Nestes, o cerne de toda a narração se dá tão fortemente
no ambiente descrito, quanto na transformação psicológica do personagem
principal. Porém, este não é o caso aqui – muito pelo contrário – embora situe
nosso humilde e discreto protagonista em um ambiente de muitas riquezas (O
Reinado de D. Pedro II) culturais e arquitetônicas, o enredo arrasta a lírica
cada vez mais para o interior simples, e deveras complexo por vezes, do padre
Francisco João de Azevedo. São as múltiplas faces deste personagem que permeiam
toda a angústia, frustração e vivencia dele ao longo de todo o livro. Padre,
professor, órfão e inventor, Francisco é tão heterogêneo quanto qualquer ser
humano da vida real, e isso o traz em essência para a compreensão no leitor que
acompanha, cada vez mais sedento, as desventuras do pobre sacerdote.
Passado no período entre 1860 e 1880 no
Rio de Janeiro, Recife e João Pessoa, o livro faz, ademais os acontecimentos da
vida do padre, que servem de essência a obra, uma pintura fluida e fascinante
sobre os costumes da corte nacional (Rio), e de suas cidades periféricas
(Recife e João Pessoa). No Rio, a estadia do bom padre para demonstrar sua
invenção na 1ª Exposição Nacional Imperial o revela costumes e frustrações
típicas do centro político brasileiro à época. As tradicionais ruas, como a do
Ouvidor, e os prédios históricos, servem de pano de fundo para os dilemas e
desafios enfrentados por Francisco para conquistar o devido reconhecimento por
seu invento inovador, e de grande importância para a nação (pelo menos em sua
mente). Figuras históricas como o próprio D. Pedro II e o Barão de Mauá são
retratados no romance, e enaltecem ainda mais a boa descrição da época, feita
pelo autor. São bem retratadas aqui as intrigas palacianas, articulações
políticas e econômicas, e a estagnação de nossas ciências e tecnologia,
motivada por desejos mesquinhos e egocêntricos.
Apontado como forte concorrente pelos
prêmios literários São Paulo, e Portugal Telecom, em 2013, o livro ainda
apresenta ao leitor uma construção literária apurada, narrando em 3ª pessoa, em
sua maioria, o drama do padre em tempos cronológicos diversos. Entrecortado a
narração, existem trechos escritos pelo próprio padre, como se o tivesse
redigido na famigerada máquina tipográfica; algo simples mais que imerge ainda
mais o leitor na obra, e enriquece a escrita apurada e versátil do autor. Desta
forma, acompanhamos a jornada do padre/inventor inicialmente em sua ida ao Rio
para a tão aguardada exposição, porém, a medida que avançamos nas páginas,
vemos momentos do passado e do futuro do protagonista, e que demonstram em
cruéis argumentos como a engenhosidade pode ser transformada em mediocridade
por governantes, ou uma população, que não sabe enxergar onde realmente se está
a verdadeira importância para os avanços de uma nação. Como no caso da descrição
sobre a política, transcrita abaixo:
A política acaba com tudo que temos de melhor. A política nos faz ansiosos de glória ou criminosos. Ela mistura vitória e vergonha. Rouba-nos ou nos faz roubar. Mata o melhor em nós e daí nos mata.
Como admirador confesso deste tipo de
romance - tão pouco representado no Brasil, embora com fortíssimos
representantes -, devo dizer que o livro retrata o que há de melhor em termos
da fascinante mistura entre ficção e história em literatura. Sua abordagem
dramática com boas pitadas de humor, concede ao livro um tom bem particular, e
que foge do estereótipo caricatural conferido especialmente á esse período da
História do Brasil. Verdade que não temos aqui um humor tão presente quanto em
O Xangô de Baker Street (Companhia das Letras), de Jô Soares por exemplo, mas
as descrições de locais e costumes são bem parecidos, por estarem as duas obras
no mesmo período cronológico. O livro ainda revela os tradicionais contrastes,
que estão presentes desde a fundação de nosso país, e persistem com grande
força até hoje: o Exótico versus moderno, ciência versus religião, pobreza
versus ostentação, são apenas algumas destas nuances contraditórias que formam
a riqueza lírica em A Máquina de Madeira.
Tons de humor no meio de um livro que acontece no passado histórico brasileiro? Fiquei curioso, parece interessante. Parabéns pela iniciativa Sérgio!
ResponderExcluirValeu Rogério! É bem bacana mesmo o livro. Recomendo :)
ResponderExcluirCara gostei de sua resenha, foi construída de uma maneira bem peculiar e diferente do que estamos acostumados a ver pelos blogs. Achei super curioso a história desse livro, essa mistura da ficção com esse período da história de nosso país é maravilhoso, pena que não é tão explorado por outros autores nacionais. :-(
ResponderExcluirNão gostei muito da história do livro, não me atraiu, porém adorei a forma como você resenhou o próprio. Você interage com o livro, e isso é uma coisa positiva em resenhas. Mesmo não fazendo o meu estilo, se o livro aparecer para mim, não exitarei em ler, é claro. Só julgo um livro após sua leitura.
ResponderExcluirEnfim, parabéns pela resenha. Esperamos por mais.
Obrigado Nathay, fico imensamente feliz com os elogios, o que me incentiva bastante a continuar fazendo crítica/resenhas literárias.
ResponderExcluirAbraço
Poxa Tamiris, fiquei muito feliz com suas palavras, obrigado. Que bom que consegui passar um pouco da essência do livro na resenha. Dê uma chance à ele, é bem provável que goste.
ResponderExcluirAbraço
sem dúvida é um livro interessante. a história contada em uma época de muita pompa, um padre inventor deve ter enfrentado muita coisa. percebi que é um livro cheio de detalhes, o autor dá um equilíbrio importante nos personagens e na situação vivida. aparecendo oportunidade, eu leio com certeza =)
ResponderExcluirgeralmente nao consigo ler livros de epoca, mas eu nunca li um livro de epoca que se passasse no Brasil e que fosse de literatura nacional!! quem sabe eu nao prefira os livros brasileiros aos americanos qndo se trata da epoca antiga!! vou ler e ver oq acho ;)
ResponderExcluirAdoro livros que tenham como plano de fundo algum momento histórico marcante. Sua resenha me deixou com aquela vontadezinha de quero mais, sabe? Sou bem curiosa a História do Brasil, adoro ler literatura ficcional que tenha base em fatos reais. Entrou para os meus desejados.
ResponderExcluir:D
ResponderExcluirDê uma chance Jack, se não a esse, á algum outro citado no texto. Não vai se arrepender.
ResponderExcluirBacana Mallu. Também me interesso muito por livros que façam esta aliança entre ficção e história. Espero que goste das leituras indicadas.
ResponderExcluirAbraço
Gente, adoro quando o livro tem humor envolvido, e ainda retratando o passado brasileiro! Essa história me atraiu por completo. A priori não tinha curtido a capa, o que me levaria a não gostar da temática, mas foi totalmente o contrário. Parabéns pela resenha, e quero mais (:
ResponderExcluirCurioso com o livro, apesar de envolver política achei a sinopse bem bacana e disponível para a leitura!
ResponderExcluirParticularmente, também gosto bastante dessa mistura de ficção com História, desde que ela seja muito bem feita. Pelo que percebi, esse livro é um belo exemplar dessa mistura, e ainda possui alguns elementos que gosto, como um pouquinho de humor, por exemplo. Vou ver se conseguirei lê-lo assim que minha listinha diminuir um pouco.
ResponderExcluir@_Dom_Dom
Pelo título deste livro eu não imaginaria que ele é um romance! kkkk
ResponderExcluirTenho que confessar que curto romances com pitadinhas de humor, e esse me faz ter vontade de ler este livro.