Editora:
Galera (Record)
ISBN:
978-85-01-10066-5
Ano:
2014
Páginas:
265
Tradutor:
Mariana Kohnert
Philip Blake está de volta. O personagem mais controvertido em um mundo dominado por mortos-vivos está a um passo do total descontrole. Como se não bastasse seu senso doentio e muito particular de justiça – ele força prisioneiros a lutarem contra zumbis em uma arena, para delírio dos moradores entediados -, a paranoia o cega para a realidade. E quando uma repórter de TV chega à cidade murada, levada por Lilly Caul após uma missão em busca de alimentos, um ódio cego e a certeza de que Woodbury está em perigo tornam o Governador mais perigoso que qualquer Mordedor. Mais violento que nunca, o homem é capaz de tudo para manter seu “paraíso”.
Sim amigos leitores, finalmente tive a
oportunidade de ler a tão aguardada sequencia literária do sucesso multimídia The Walking Dead, de Robert Kirkman. Publicada nos EUA como
um único livro, o volume foi dividido em dois no Brasil, desta forma, a resenha
que você acompanhará abaixo equivale à parte 1 desta saga que conta, em
detalhes, como se dá a queda do famigerado governador – talvez um dos vilões
mais odiados da atualidade. Precedido por dois livros anteriores, A Ascensão do Governador e O Caminho para Woodbury (Galera), o
enredo aqui apresentado segue a trama dos quadrinhos; importante salienta isso
logo de cara. Ou seja, as referências de enredo, e mesmo descrição dos
personagens não serão tão familiares aos milhares de fãs que conheceram o
título pela série de televisão exibida pela FOX (e produzida pela AMC). Outro
ponto importante, é que segue neste novo livro a parceria entre Kirkman e o
competente escritor de terror americano Jay
Bonansinga, que assinou as duas primeiras publicações da franquia. Em
termos de aceitação do público os livros seguem o grande apelo e receptividade
da série televisiva e dos quadrinhos, e já vendeu meio milhão de exemplares no
mundo – sendo metade disso só no Brasil! Ou seja, os fãs da marca parecem
ávidos pela tragédia deste mundo assombrado pelos mortos, e mais ainda pelos
vivos, fazendo de tudo relacionado à TWD uma garantia de sucesso. Mas, isso
garante qualidade literária? Vamos conferir a partir de agora.
A primeira parte de A Queda do
Governador nos apresenta a continuação da saga de Lilly Caul, uma jovem sobrevivente que perdeu seus amigos de forma
traumática ao chegar à Woodbury controlada de forma desenfreada pelo
Governador, ou seja, é uma continuação direta de O Caminho para Woodbury,
segundo livro da série. Aqui, presenciamos a fundamentação do poder, e da
loucura, e Philip Blake como líder da cidade sitiada, mantendo seu controle, e
o da população, por meio de uma linha tênue e angustiante. Embora a trama siga
os preceitos dos quadrinhos, o clima elaborado por Bonansinga é bem mais
próximo do vislumbrado na série de TV, com momentos muito empolgantes, e partes
bem arrastadas. Para mim, que acompanhei com muita avidez os dois primeiros
livros, me peguei em alguns momentos desconfortável com a mesmice implantada
pelo autor – talvez isso seja um recurso apegado ao estilo, para passar uma
sensação de inquietação no leitor, semelhante ao dos habitantes da pequena
cidade. Porém, achei que ele poderia ter sido um pouco mais ousado (talvez a
segunda parte se encarregue disso). Não que a linguagem seja ruim, ou o ritmo
chato, mas para quem acompanhou os primeiros títulos, bem mais movimentados e
atraentes em estilo, este pareceu acomodado demais em seu nível, que é bom, mas
poderia ser um pouco melhor.
Quanto à abordagem do universo criado
por Kirkman, o livro passa bem a proposta e envolve imediatamente o leitor
naquele mundo dominado pelos mortos, no entanto, centrado nas experiências
humanas; usando a morte como metáfora para as moléstias humanas, mais evidentes
em situações extremas, como a aqui apresentada. Algo positivo em relação à obra
é referente ao desenvolvimento dos personagens; sua escalada em direção à
loucura, a mudança de pontos de vista, a angústia pelo sofrimento. As figuras
que vinham sendo descritas desde o livro anterior, são aprimoradas de maneira
coerente, e demonstram a habilidade do escritor em desenvolver tanto a trama,
quanto os personagens e cenário – ponto super positivo para o livro. Outra coisa
bacana é relativa ao aparecimento, pela primeira vez em livro, de personagens
dos quadrinhos, isso mesmo, Rick, Michonne e Glenn dão o ar da graça nas
páginas desse volume. Entretanto, para quem lê as HQ´s, logo a surpresa se
revela uma decepção. Acontece que em diversos momentos a narração do livro se
equipara à dos quadrinhos, basicamente se repetindo. Para quem não lê TWD em
quadrinhos, ótimo; aos que acompanham a saga publicada pela IMAGE, não deixa de
surgir um sentimento meio decepcionante quando os enredos se unem, descrevendo
a mesma coisa. Poderiam ter usado as páginas para ampliar o cenário, como nos
livros anteriores, e não para repetir.
Se pudesse resumir esta primeira parte
de A Queda do Governador em uma só palavra seria: bom. Isso mesmo,
interessante, mas tem potencial para ser bem mais. Acho que a surpresa dos
primeiros se perdeu no enredo, e não teve coragem de ser reinventada dentro de
seu próprio estilo – algo útil para renovar a curiosidade e interesse do
leitor. Embora tenha gostado da leitura em sua maioria, espero bem mais da segunda parte, e que feche o arco de forma mais ampla e complementar em relação aos quadrinhos.